Inteligência Artificial na produção documental: Onde a tecnologia agrega e onde falha.
20.10.2025
Esses dias mesmo, eu estava analisando e estudando um vídeo institucional de uma grande marca.
Tudo tecnicamente perfeito: luz impecável, cortes precisos, música envolvente.
Mas faltava algo.
Esse é meu maior medo: fazer videos e faltar algo.
Sabe quando você assiste e solta um: - Ah, legal…
Era isso.
A equipe usou Inteligência Artificial em praticamente todo o processo.
Gerou roteiro, organizou depoimentos, montou a edição.
O resultado parecia bom… até demais.
Mas sem aquele detalhe, aquela falha e verdade que só os humanos tem, que no fundo da percepção faz toda diferença.
Foi ali que me bateu: a IA está virando a nova muleta da pressa.
As pessoas estão trocando profundidade por eficiência, contexto por automação.
E o problema não é a tecnologia.
É o lugar que colocaram ela.
A Inteligência Artificial na produção documental pode até ser uma aliada.
Mas quando ela assume o papel principal, eu diria que a história morre um pouco. Ou, aos poucos.
Quando tudo soa igual, nada mais emociona
Você já reparou como todos os vídeos de marca estão começando a ter a mesma cara?
Mesmo ritmo.Mesma música.
Mesmo tipo de depoimento com frases inspiracionais que soam genéricas, como se tivessem sido escritas por um robô tentando se parecer com um humano.
A IA trouxe uma facilidade perigosa.
Ela te entrega resultados rápidos, mas também te coloca dentro de uma estética pasteurizada, onde tudo parece ter sido produzido pela mesma cabeça.
Eu tenho uma impressão de que as marcas acham que estão se diferenciando, quando na verdade estão se misturando ainda mais.
A gente vê isso direto.
E ao mesmo tempo faz uma analise de tudo que está acontecendo e até de nós mesmos, de nossos processos e condutas na produtora.
Empresas investindo pesado em automação, acreditando que o diferencial está na ferramenta, e esquecendo o que realmente diferencia: a verdade.
O público percebe.
Ele pode não entender tecnicamente, mas ele sente quando uma história é feita por gente… e quando é feita por software.
É aquela sensação de que ela sabe que tem algo estranho, mas não sabe nomear ou definir o que é. Mas que está estranho, está.
A falsa sensação de agilidade
Alguns gestores de marketing (para não dizer muitos…) hoje se orgulham em dizer: “Produzimos 20 vídeos este mês.”
Mas será que algum deles vai ser lembrado daqui a seis meses?
A Inteligência Artificial na produção documental gera uma sensação de produtividade.
Você sente que está entregando mais.
Mas, na prática, está entregando menos significado.
O conteúdo fica raso, previsível, e principalmente… esquecido.
Produzir rápido virou a nova métrica de sucesso.
Mas rapidez sem direção é só movimento.
E movimento sem propósito é cansaço disfarçado de eficiência.
O toque humano não vem depois. Ele vem antes.
-Mas Renan, dá pra usar IA pra fazer tudo e depois “colocar o toque humano no final”. Você mesmo já deve ter percebido casos quando isso acontece.
Ao meu ver, o toque humano não é acabamento.
É o alicerce.
O olhar que decide o que vale mostrar.
A escuta que percebe o que o outro quis dizer, mesmo quando não disse.
A sensibilidade que entende quando o silêncio conta mais do que qualquer fala.
Lembro de um projeto específico em que o entrevistado travou no meio da fala. A voz embargou. A mente daquele senhor, revisitou quase tudo da sua vida.
O silêncio durou longos dez segundos.
Qualquer editor automático teria cortado.
Mas aquele silêncio, virou o coração do vídeo.
Porque ele dizia tudo o que as palavras não conseguiam.
Nenhum algoritmo teria entendido isso.
E é exatamente por isso que a tecnologia precisa trabalhar com a gente, não no lugar da gente.
Mas e os dados e métricas dos dashboards?
Outro ponto curioso que me intriga é como as empresas estão se afogando em dados. Não questiono a importância deles.
O que não se registra, não se mede e nem se ajusta.
Essa é uma frase bem marcante pra mim. Ouvi em uma oportunidade e nunca mais esqueci.
Tudo hoje é medido, calculado, projetado.
Mas pouca gente ainda para pra escutar.
Não é raro ver times de marketing gastando um bom tempo analisando métricas e esquecendo o essencial: o que essa história realmente diz sobre quem nós somos?
Porque, no fim das contas, números mostram o que aconteceu.
Mas é a história que explica por que aconteceu.
Talvez a IA entenda o “como”.
Mas o “por que” continua sendo humano.
E é esse “por que” que conecta, que cria vínculo, que faz o público lembrar da marca.
Você não lembra de um vídeo porque ele teve 90% de retenção.
Você lembra porque ele te fez sentir alguma coisa.
Tecnologia é ferramenta. Humanidade é método.
Por aqui, a gente usa IA todos os dias.
Com ressalvas, claro.
Para organizar roteiro, revisar transcrições e legendas, otimizar processos.
Mas nunca pra substituir o olhar humano.
A tecnologia entra pra ajudar o ritmo, não pra roubar o sentido.
O que define o rumo da história ainda é a escuta, o olhar e a interpretação.
E esse é o ponto que muita empresa não entendeu: a IA é ferramenta.
O método é humano.
A IA pode sugerir caminhos, mas quem escolhe a trilha certa é o diretor.
Porque o que transforma o vídeo em uma experiência não é somente a técnica.
É a intenção, a sensibilidade.
O conteúdo que envelhece e o que permanece
Inevitavelmente, a maioria dos vídeos automatizados nasce com data de validade.
Eles são feitos pra rodar no mês, performar na semana e desaparecer no trimestre.
Um documentário bem dirigido, não.
Ele atravessa o tempo.
Continua relevante mesmo anos depois, porque se apoia em verdade, não em tendência.
Temos um cliente que não o vemos com frequência pessoalmente, mas sempre que nos encontra ele diz:
“Aquele vídeo "X” que fizeram ainda é o que melhor representa nossa marca.”
Ele já fez vários outros depois.
Mas nenhum bateu aquele.
Sabe por quê?
Porque a sensibilidade humana não envelhece.
A IA precisa de direção, não de protagonismo
A IA na produção documental pode ser uma aliada incrível.
Mas só quando entende o seu lugar.
Ela pode montar o vídeo.
Tecnicamente, muito melhor e muito mais rápido que nós.
Mas quem sabe o que deve ser mostrado ainda é o ser humano.
Porque a IA entende dados, mas não entende dores.
Ela prevê comportamento, mas não prevê emoção.
E o público sente isso.
Sente quando a marca fala de dentro pra fora.
Sente quando existe gente de verdade por trás da câmera.
Nós, usamos a tecnologia a favor da história.
Pra acelerar o que é técnico e preservar o que é essencial.
Porque o que faz um vídeo ser lembrado não é o quão inteligente foi o software.
É o quão humana foi a intenção.
E no fim, é simples:
A IA pode te ajudar a contar.
Mas só o humano sabe por que contar.
Um café quente e uma mente presente.
Renan.